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15 de janeiro de 2012

Renata Ceribelli e a psicanalista Joana Novaes debatem a ditadura da beleza

Se a Monalisa vivesse nos dias atuais, provavelmente estaria assim  pra ser considerada digna de uma pintura. 
      Boa tarde, olha, sempre penso nesses paradigmas tão enraizados na nossa cultura, somente um número mínimo de pessoas é que estão dentro do padrão estabelecido por aí. O mais triste é que não estou vendo mudanças, só vejo mulheres  infelizes com o seu corpo,  se sentindo menos mulher do que as outras, como se fosse um defeito delas não terem 1,80 e pesarem 50 quilos, olhos claros, cabelo loiro esvoaçante e seios infláveis. Isso sim é fora do padrão,  somos bonitas na nossa brasilidade. 
            Trouxe esse texto, uma entrevista, gosto muito da Joana Novaes, já li alguns artigos dela, acompanhei alguns programas de TV também, seu livro está na minha lista de compras, depois posto os que ela tem publicado.
              E amanhã, dia de pesagem, espero ter boas novis pra por aqui. Bjss e até amanhã.

Luna Pinna

Renata Ceribelli e a psicanalista Joana Novaes debatem a ditadura da beleza


Nossa, quanta revolta contra essa ditadura da beleza, não é?
Está na hora de dar um basta nisso. Não sei depois de quantas gerações conseguiremos, mas precisamos realmente nos unir contra isso.
É o lado emocional de cada uma de nós que está adoecendo com essa cobrança. A vida é tão curta, e estamos deixando de viver seus prazeres por causa de complexos, como o de uma telespectadora que me escreveu contando que tem vergonha de ficar nua na frente do próprio marido! Com esse tipo de vergonha, a saúde sexual do casal já deve estar comprometida, concordam?
Para nos aprofundarmos um pouco mais no assunto, conversei com a psicanalista Joana Novaes, que está conosco em alguns casos da Liga das Mulheres.

Por que as mulheres estão tão insatisfeitas com a própria aparência?
Fundamentalmente porque vivemos numa sociedade do espetáculo, que responsabiliza o sujeito pela própria aparência. E qualquer desvio com a imagem corporal é visto como problema de caráter: desleixo, preguiça e falta de obstinação.

Muitas mulheres responderam que a culpa é da mídia, que fica impondo o padrão de beleza das modelos. Mas se a maioria das mulheres sofre com isso, porque esse padrão prevalece?
Porque vivemos também numa sociedade de consumo, do culto ao corpo. E é extremamente lucrativo para a indústria que o sujeito se sinta insatisfeito com a própria aparência. E a partir daí, através do consumo (de cremes, dietas, cirurgias plásticas, malhação), ele acha que vai se sentir mais satisfeito com o que é esperado dele.

Quais os comportamentos indicativos de que a insatisfação com a aparência está ultrapassando os limites saudáveis? E nesse caso, o que a pessoa deve fazer?
Um bom parâmetro para aferirmos que esta preocupação se tornou patológica é analisarmos a vida associativa do individuo: se tem uma vida amorosa ou é sexualmente ativo, se circula com freqüência em lugares de sociabilidade, como praia, academia, bares, boates, festas, reuniões na casa de amigos, se fica excessivamente desconfortável de mostrar o corpo em público, entre outros. Caso esteja se privando dessas atividades, já um sinal de alerta para ficarmos atentos.

Um conselho imediato que dou é revelar esse sofrimento para alguém de sua confiança. Quando dividimos um problema, ele certamente fica bem menos pesado.
Caso esses aspectos estejam associados a uma dieta muito restritiva ou uma rotina extenuante de exercícios, essa pessoa deve procurar clínicas sociais, onde haja um atendimento multidisciplinar: com acompanhamento psiquiátrico, psicológico e nutricional. (No fim do texto, você encontra algumas instituições que a Joana indica, no Rio).

Pelos estudos da história da beleza, qual é a tendência? Esse padrão deve prevalecer até quando?
Acho que discussão mais importante, neste caso, não está relacionada às variações estéticas dos inúmeros padrões que vemos ser alterados ao longo da história. E sim, a indústria da beleza, perfumaria e cosmética, que vem crescendo com índices nada negligenciáveis. Ou seja, na atualidade não se justifica ser feio. Posto que fugir da feiúra está cada vez mais ao seu alcance e com preços mais democráticos. Chamamos esse fenômeno social de “moralização da beleza”, onde qualquer desvio com a aparência é visto como uma transgressão.

Quando a mulher estiver se sentindo com a auto-estima baixa, o que ela deve fazer para não se deprimir?
É sempre bom lembrar que, embora o corpo seja a roupa que nos veste, existe um grande conteúdo a ser desvelado. Ou seja, somos muito mais que um corpo. Pensar que temos outras realizações que não estão restritas a nossa aparência física. Família, trabalho e amigos são aspectos importantes para analisarmos que somos bem sucedidos na vida.

Que tipo de exercício interno a mulher deve fazer para não ser “contaminada” por essa ditadura da beleza?
Sejamos realistas, não ser contaminado só no caso de um eremita. O sujeito é sempre produto do meio social onde ele vive. E seu corpo, uma construção histórica e social. No entanto, é desejável que se tenha uma dimensão critica em relação aos discursos dominantes para que não adoeçamos em nome dos ditames estéticos. Para que não nos tornemos passivos é interessante que o sujeito se engaje em movimentos de resistência: grupos de discussão, debates, espaços onde haja uma problematização dos temas em questão.

Até que ponto os homens são responsáveis ou legitimadores dessa ditadura da beleza?
A historia é contada pelos homens. Vivemos numa sociedade patriarcal. E é importante perceber que o corpo feminino sofreu inúmeras regulações ao longo da historia. A ditadura estética da magreza e da juventude é mais uma faceta dessa opressão.  Mas vale lembrar que em termos históricos, o movimento feminista ainda é bastante recente no sentido de produzir uma consciência feminina menos radical, que não pense no papel da mulher na sociedade como um sujeito que deve mimetizar as tarefas masculinas e somá-las às tradicionalmente associadas ao universo feminino. O que significa pensar numa “super mulher”. Temos que aprender a fazer concessões.
Super esposa, super mãe, gostosa, super profissional é uma armadilha para o adoecimento psíquico dessa mulher.

Uma nova revolução feminista deve começar por aí? Com bandeira: abaixo a ditadura da beleza?
Não… Talvez uma ação afirmativa dos feios! Reivindicando um lugar de menor exclusão na sociedade (risos). É uma provocação que faço.

Qual a sua mensagem para as mulheres que acreditam que estar magra é sinônimo de felicidade?
É inegável que uma pessoa magra tem sua vida facilitada no mundo como o nosso. É mais fácil arranjar emprego, comprar roupas, já que os manequins diminuem acintosamente, ir à praia sem ser olhado como se gordura fosse uma falta de educação e não ser olhado pelos amigos como se fosse sem vergonha toda vez que fosse comer alguma coisa. Ainda assim, reduzir um sujeito ao próprio corpo é, a meu juízo, empobrecedor. O sujeito é um conjunto de experiências, vivências e histórias a serem contadas. Dimensões de afeto que não somente tem a ver com o peso na balança.
  
Algumas clínicas sociais que eu indico:
Núcleo de doenças da Beleza do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social- LIPIS, da PUC-Rio.
Endereço: Rua Marques de São Vicente 225- Gávea – Rio de Janeiro.
Tels: (21) 3527-1573/1574/1575

Nuttra: Núcleo de Transtornos Alimentares e Obesidade da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro
Endereço: Rua Santa Luzia, 206 – Centro – Rio de Janeiro.
Tels da Santa Casa: (21) 2297-6611 / 08000 25 7007 (gratuito) / (21) 9367-2369

Gota: Grupo de Obesidade e Transtornos Alimentares
(21) 2507-0065
Obs: Tem lista de espera

Para quem está fora do Rio, sugiro que procure os ambulatórios e serviços de psicologia que estão inseridos nas universidades.



1 borboletas, comentaram!:

Drika disse...

Adorei o texto!!!